O médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, acusado de uma série de abusos sexuais contra mulheres, é considerado foragido da Justiça e seu nome foi incluído na lista da Interpol. A prisão preventiva contra ele havia sido decretada no fim da manhã de sexta-feira (14). O prazo para que se entregar terminou às 14 horas de sábado (15).
De acordo com o Estadão, João de Deus deve se entregar neste domingo (16). O jornal apurou que a data foi definida em uma negociação entre a polícia e a defesa do médium.
Ainda segundo o Estadão, a Polícia Civil suspeita que ele esteja fora de Goiás. Nas negociações realizadas neste sábado, uma das hipóteses era de que agentes fossem até o local onde ele está para fazer a prisão e o transporte até Goiás. Em virtude da idade (ele tem 76 anos) e da natureza do crime de que é acusado, a expectativa é de que ele fique em uma cela individual. Integrantes do grupo destacado para fazer a investigação e as negociações, no entanto, ainda colocam em dúvida se o acerto será de fato cumprido. Para eles, a defesa do médium deverá aguardar o resultado do pedido de habeas corpus.
Se a medida for concedida antes de ele se apresentar, seria possível evitar um desgaste ainda maior para o médium, que atrai anualmente para a cidade goiana de Abadiânia 120 mil fiéis - 40% deles estrangeiros.
O advogado de defesa de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, no entanto, afirmou em entrevista que seu cliente vai se entregar antes da apresentação do habeas corpus. A ação será proposta na segunda.
Uma vez preso, João de Deus seria levado para Goiânia, onde deve acontecer o interrogatório. “Será longo, detalhado. Há um grande número de relatos e informações que precisam ser questionadas”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes de Almeida. O delegado, porém, disse não descartar que o médium não esteja mais em Goiás.
O MP de Goiás também investiga eventual movimentação suspeita de recursos financeiros, como transferência de dinheiro das contas de João de Deus. Transações financeiras desse tipo poderiam indicar intenção de ocultar valores e reduzir as chances de pagamento de indenização às vítimas. Segundo o jornal O Globo, João de Deus retirou R$ 35 milhões após as primeiras denúncias.
Desde que a prisão preventiva foi decretada, a Polícia Civil afirma já ter procurado João de Deus em mais de 20 endereços. Os locais já investigados estão sob sigilo. Só após ele se entregar, a defesa de João de Deus deverá apresentar o pedido de habeas corpus. A expectativa é que a defesa explore o que o advogado Alberto Zacharias Toron classifica como “pequeno número de depoimentos” usados pela Justiça para fundamentar a decretação da prisão preventiva, o que poderia indicar fragilidade de provas.
Há a possibilidade, ainda, de que a espiritualidade atribuída a João de Deus seja usada na argumentação. Para a defesa, a intolerância religiosa poderia incentivar o grande número de denúncias, muitas das quais ainda não formalizadas.
A tendência é de que os advogados procurem mostrar o médium como um homem rústico, simples, de personalidade multifacetada e que, muitas vezes, seria guiado por recomendações de guias espirituais. Em suma, viveria com uma lógica pouco convencional.
O momento em que o País vive também deverá ser incluído. Para advogados, depois de quatro anos de operação que trouxe denúncias contra uma série de pessoas públicas, um crime contra um candidato à presidência seriam fatores para aumentar a tendência de “denuncismo” e “polarização”. João de Deus foi visto em público pela última vez nesta quarta, quando visitou a Casa Dom Inácio de Loyola, onde faz os atendimentos. Em um pronunciamento de poucos minutos, disse ser inocente e estar à disposição da Justiça.
A mulher de João de Deus, Ana Keila Teixeira, apareceu em público na manhã de ontem, durante uma festa de distribuição de brinquedos para crianças carentes de Abadiânia e pediu que todos rezem para que a verdade prevaleça. Ela não concedeu entrevista. Segundo o Estadão, patrocinada todos os anos pelo médium, a festa é considerada um dos acontecimentos de Abadiânia, cidade a 112 quilômetros de Brasília. Um toldo é estendido em frente da casa do líder espiritual e brinquedos são dispostos na rua. Depois do almoço, há distribuição de bonecas, bolas e outros brinquedos.
Todos os anos, cerca de 2 mil pessoas participam do evento. Nesta edição, no entanto, a movimentação ficou muito abaixo da média, com cerca de 200 pessoas, a maioria crianças.
Fonte: Estadão
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