Uma médica cubana que mora em Irecê relata a vontade de trabalhar no combate ao coronavírus no estado. Ela, que tem experiência de 11 anos na área, não pode exercer a medicina no país pela falta do Revalida, um sistema de revalidação de diplomas médicos estrangeiros.
O Revalida é um exame com validade anual feito pelo governo federal, que teve última edição aplicada no ano de 2017. Sem uma nova previsão para a prova, médicos com diplomas de outros países ficam impedidos de atuar.
A médica Keylan Oris Robles é um desses profissionais. Ela chegou a atuar durante o programa Mais Médicos no interior do estado, e resolveu permanecer na Bahia quando os contratos foram encerrados pelo governo federal.
“Sou médica cubana, 11 anos de formada como clínica geral, tenho pós-graduação em cuidados intensivos, especificamente para atenção a pacientes graves. Cheguei no Brasil no ano de 2017 com meu esposo. Nós fomos deslocados para trabalhado no interior da Bahia, no município de Central, perto de Irecê, é um município muito pequeno e também com pouca estrutura de saúde”, disse.
“Trabalhei na unidade de saúde familiar na zona rural, e junto a essa unidade tinham outras duas unidades satélites, que eu fazia o deslocamento duas vezes por semana. Amei o trabalho com minha equipe brasileira, enfermeiros, clínicos, agentes de saúde comunitários. Nunca tive incidência na mortalidade infantil, mortalidade materna. Fizemos atividades para melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, conta Keylan.
“Após o rompimento do contrato, ficaram muitos cubanos por aqui, em muitos estados do Brasil. Especificamente aqui na Bahia, ficamos cerca de 150 médicos cubanos, com a melhor disposição do mundo e o conhecimento para trabalhar e ajudar a população brasileira nessa pandemia”.
“Ficamos tristes, ficamos desanimados ante tanta humilhação por parte do governo, exigindo que para trabalhar nesse momento, devemos ter o diploma revalidado, coisa que é muito difícil já que não se faz o revalida desde 2017. Só tenho para falar para o governo da Bahia e para o governo do Brasil, que aqui temos um exército de médicos e médicas cubanas, com conhecimento e disposição para trabalhar e ajudar o povo brasileiro”, ponderou.
Também cubano, o marido de Keila está atuando no estado do Pará. Por lá, o governo estadual tomou a iniciativa de contratar 86 médicos com diplomas estrangeiros sem a liberação do governo federal.
A medida gerou polêmica com o Conselho Regional de Medicina do estado paraense, mas o governador Helder Barbalho sustentou a posição e disse que está pensando em salvar vidas.
“Eu estou feliz e triste ao mesmo tempo. Triste por que estou separada do meu esposo, mas feliz porque ele foi para o estado do Pará, que tomou a iniciativa de contratar médicos cubanos. Já tem muitos cubanos lá, trabalhando nos hospitais de campanha em Belém, especificamente na capital”, disse.
“E eles [médicos] estão felizes e contentes de, depois de muito tempo, poder fazer o exercício da medicina para sobreviver. Hoje eles estão colocando seus jalecos de médico, pegando seus instrumentos para trabalhar à disposição do povo brasileiro nessa pandemia”, avaliou Keylan.
O governo da Bahia, junto com os governadores do Consórcio Nordeste, tentam a liberação do governo federal para a contratação de médicos cubanos, mas o aval ainda não foi dado.
Segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), por enquanto, está descartada a contratação dos médicos sem a atualização do Revalida.
Em contrapartida, o estado prorrogou as inscrições para contratação de 400 médicos até a próxima segunda-feira (25), por causa do não preenchimento do quadro necessário. Até esta segunda-feira (18), 329 profissionais se inscreveram, mas nem todos estão aptos para trabalhar.
As vagas serão distribuídas entre as unidades de referência e retaguarda para o coronavírus em território baiano. A convocação é para médicos com experiência, sendo especialistas nas áreas de medicina intensiva, anestesiologia, cirurgia, pneumologia, clínica médica, cardiologia, nefrologia, infectologia e áreas afins.
Fonte: G1
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