Com aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT decidiu oficializar neste domingo (5) o nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como vice na chapa do partido ao Planalto.
Com a decisão, o PT deflagrou o chamado plano B, admitindo, mesmo que nos bastidores, que Lula deve ser impugnado antes do primeiro turno, e então poderá ser substituído na cabeça de chapa pelo próprio Haddad.
Após uma negociação que consumiu todo o dia, os petistas conseguiram firmar ainda uma aliança com o PCdoB, que garantirá a vaga de vice ao partido quando o ex-presidente for impedido de concorrer e o ex-prefeito assumir seu lugar.
O martelo foi batido depois de horas de reuniões e divergências, e contrariando o plano inicial do próprio Lula, que queria indicar um vice apenas em 15 de agosto, data limite para o registro das candidaturas.
Em mensagem ao partido neste domingo, o ex-presidente disse que Haddad é a melhor opção para assumir a vaga agora e enfrentar o debate eleitoral pela sigla, mas pediu que o partido não desistisse de um acordo com o PCdoB. E assim foi feito. Durante todo o dia, o PT articulou à espera da aliança.
Petistas queriam que o PCdoB abrisse mão de sua candidatura presidencial agora, coligasse com o PT, e esperasse, "na reserva", para assumir a vice de Lula quando ele fosse declarado inelegível. Nesse caso, Haddad ficaria com a cabeça de chapa.
De início, integrantes do PCdoB não aceitaram a proposta -feita desde o fim da semana passada- e disseram que petistas chegaram a ameaçar romper acordos regionais no Rio e em outros estados caso a sigla não se aliasse ao PT nacionalmente.
Ainda durante o domingo, o PCdoB avaliava três possibilidades: manter a candidatura de Manuela D'Ávila, se aliar a Ciro Gomes (PDT) ou mesmo ao PT. E então, dizem dirigentes do PCdoB, a pressão petista ficou mais forte.
O PCdoB chegou a anunciar a manutenção de Manuela na disputa, com Adilson Araújo, também do partido, como seu vice.
Por volta das 22h, uma comitiva petista foi para a sede do PCdoB em São Paulo, para a última tentativa de acordo, que deu certo.
A ata do acordo foi registrada pouco antes da meia-noite deste domingo, limite para que o documento fosse fechado.
A partir de agora, Haddad falará em nome de Lula e do partido, com credenciais para defender o programa de governo, do qual foi coordenador, enquanto o ex-presidente não for barrado com base na Lei da Ficha Limpa -ele está preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro desde o início de abril.
A negociação dos últimos dias foi marcada por muita tensão e incertezas mesmo dentro do partido. Com a negativa de Jaques Wagner, cotado como plano B caso o ex-presidente seja impugnado, de assumir o posto de vice, o ex-presidente deu aval para que Haddad ficasse com a vaga. Ele também é apontado como opção quando o ex-presidente for declarado inelegível.
O nome do ex-prefeito, porém, sofria resistências internas no PT. Até os últimos momentos das tratativas, ainda havia dirigentes da sigla que defendiam que a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), assumisse a vice de Lula.
Gleisi não fazia autopropaganda abertamente e, inclusive, conversou com Wagner por telefone, na sexta-feira (3), insistindo para que ele aceitasse a missão e fosse declarado vice de Lula.
O argumento do grupo que resistia ao ex-prefeito era o de que lançar Haddad seria como antecipar o plano B do partido, expondo precocemente o nome a desgates e admitindo, mesmo que informalmente, que o PT já não conta com Lula na disputa.
Em contraponto, os defensores de Haddad -que entrou na CNB, corrente majoritária petista, para tentar vencer resistências- diziam que ele poderia representar o ex-presidente nos debates, entrevistas e eventos dos quais Lula não pode participar, inclusive, nacionalizando seu nome e fortalecendo a imagem do partido.
Além disso, afirmam, o ex-prefeito tem o apoio da juventude petista. Seu desafio, porém, é melhorar o discurso -considerado empolado e bastante frio- e crescer entre os eleitores do Nordeste, principal reduto da sigla.
De acordo com advogados do PT especializados em direito eleitoral, com Haddad sacramentado, seria possível indicar um novo nome como vice quando o ex-presidente for declarado inelegível.
O calendário causa divergência dentro do próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Há quem avalie que a oficialização das chapas deve ser feita até o dia final para o registro das candidaturas, como foi até a eleição passada -este ano, a data é 15 de agosto. Mas uma manifestação da corte sobre o fim do prazo das convenções, em 5 de agosto, abriu margem para dúvidas e fez com que os partidos corressem com os prazos para este domingo.
Fonte: Folhapress
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