Plantação de milho em Irecê, na Bahia — Foto: Divulgação
Irecê, na região da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, já foi chamada de “capital nacional do feijão”, mas, hoje, a leguminosa é coisa rara na cidade. No intervalo de apenas uma década, entre 2011 e 2021, a área dedicada à cultura encolheu 96%, passando de 2,1 mil para apenas 86 hectares, segundo o IBGE. No auge, as lavouras da Região de Irecê chegaram a ocupar 7 mil hectares.
Sobraram poucos produtores, e esses poucos têm sido premiados pela insistência (ou, a depender do ponto de vista, pela teimosia). Os preços do feijão no atacado nunca foram tão altos no país. A saca do feijão-carioca, o mais consumido no Brasil, tem saído por mais de R$ 400, mas chegou a atingir R$ 600 há poucas semanas, valor quase duas vezes maior do que o de meados de 2020, época em que a pandemia fez os preços dos alimentos atingirem picos inéditos.
Os produtores de Irecê têm conseguido aproveitar esse bom momento porque, nas últimas safras, o La Niña levou chuva sempre na hora certa às plantações da região —sobretudo de milho.
— De 2011 em diante foi só castigo — conta o agricultor Heleno Antônio Francisco dos Santos, de 71 anos, relembrando as sucessivas perdas causadas ora por falta de chuvas, ora por excesso. — Mas, de 2019 pra cá, estamos produzindo muito. A gente nunca viu aqui uma área que desse 30 sacos de feijão, e este ano aconteceu.
Heleno tem planos de ampliar sua área de cultivo: hoje, ele planta em cinco das 20 tarefas que ocupa. Cada tarefa, uma unidade de medida local, equivale a 2,4 hectares.
— Isso é uma decisão de todos. Todo mundo sofreu, e agora todo mundo está com coragem de trabalhar, graças a Deus — diz o agricultor.
O La Niña, fenômeno que se caracteriza pelo resfriamento atípico das águas do Oceano Pacífico, costuma reduzir as chuvas no Centro-Sul do Brasil e deixá-las mais regulares na Região Nordeste. Nos últimos três anos, o fenômeno, que se encerrou em março, castigou principalmente os produtores rurais do Rio Grande do Sul.
Área plantada encolheu
O Nordeste foi a região do país em que o plantio de feijão mais encolheu nos últimos dez anos. A área nordestina dedicada à cultura passou de 2,17 milhões em 2010/11 para 1,43 milhão em 2021/22.
— Ninguém consegue acreditar num negócio desses. O Nordeste só tem opção de plantar feijão ou milho. Se a região não está plantando uma coisa nem outra, então não está plantando nada. Isso começou a me preocupar — afirma João Ruas, analista de mercado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De qualquer forma, o encolhimento da área de plantio de feijão não se restringe ao Nordeste. No início da década de 1980, a cultura chegou a ocupar mais de 6 milhões de hectares no país, mas as lavouras somam hoje 2,74 milhões de hectares, de acordo com a última estimativa da Conab para a safra 2022/23.
É verdade que, sozinho, o dado não conta toda a história. Mesmo com a diminuição de área, a produção nacional tem se mantido na faixa de 3 milhões de toneladas ao ano, ressalva o pesquisador Alcido Wander, da Embrapa Arroz e Feijão — exceto nas temporadas de estiagem, como foi o caso das três últimas.
Além disso, a paulatina diminuição de área mantém a oferta apertada, o que segura os preços em patamar elevado. Em estudo recente, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) previram que os brasileiros deverão deixar de comer feijão de forma regular até 2025.
O quadro é bem diferente daquele que se via nos tempos em que caminhões de todos os cantos do país faziam fila para buscar feijão em Irecê.
— Era tanta produção, uma coisa assim que deixava a gente emocionado, mas aí veio essa seca danada. Foi muito sofrido — relembra o agricultor Valdemar Mendes Pereira, de 43 anos.
Ele conta que vai retomar o plantio de feijão ainda neste ano. Em Irecê, que já perdeu para a estiagem quase todo o feijão que plantava, ao menos dessa vez o céu foi um pouco mais generoso.
Nota
Ainda que a produção agrícola da Região de Irecê foi boa em 2023, muitos produtores estão reclamando do preço, principalmente de milho, que caiu muito — conforme apurou o Central Notícia. A saca está em torno de R$ 48, mas já custou R$ 90.
Fonte: O Globo
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