A estudante Maria Vitória da Gama, com deficiência intelectual, colou grau no curso superior de Análise e Desenvolvimento de Sistemas no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia, Campus Irecê.
A cerimônia realizada do tipo de gabinete contou com a presença de outros 08 (oito) alunos/as, que também se formaram. Mas, Maria Vitória, foi entre todos/as uma presença muito marcante, que também ficará na história da instituição. Veja o motivo sabendo um pouco da sua história contada a seguir:
“Vitória tem uma história de superação. Antes mesmo do seu nascimento adquiriu uma infecção e ao nascer com apenas oito meses teve uma parada cardíaca que a deixou aparentemente sem sinais vitais. Mas após seis meses internada em uma UTI, sob muitos cuidados, Vitória recebeu alta.
A sua mãe, a senhora Jeane Gama, foi orientada que devido às tantas convulsões ela possuía problemas neurológicos que poderiam afetar a sua capacidade motora, cognitiva/intelectual, de linguagem.
E devido a um quadro de insuficiência respiratória, foi necessário que ela desse entrada inúmeras vezes no hospital e fizesse uso de muitas medicações fortes.
Todos os aspectos do desenvolvimento infantil de Vitória não foram dentro do esperado para a sua faixa etária. Apenas em torno dos dois anos ela começou a caminhar e só com mais dois anos era possível compreender o que ela verbalizava (era uma fala de difícil compreensão).
O ingresso escolar ocorreu por volta dos três anos e meio. Na escola as dificuldades eram visíveis, tanto comportamentais como na aprendizagem, mas nesse período já aprendeu o identificar as letras, cores e iniciou o processo de alfabetização. Também nessa época iniciou o acompanhamento psicológico, fonoaudiológico e pedagógico.
A sua mãe relata que procurou não criar expectativas em relação à Vitória, buscou não forçar nada. Tudo o que viesse seria lucro, mas sempre teve o cuidado de ouvir e esforçar para realizar cada orientação ouvida.
Mas nessa época, já era visível que Vitória conseguia ir além do esperado para o seu quadro clínico. Mas o que quadro clínico de Vitória? Ela foi além e mostrou que do modo dela e no tempo dela conseguiria superar o esperado para a sua vida. Com acompanhamento, suporte escolar devido, auxílios e adaptações, Vitória que segundo médicos, não chegaria aos dois anos de idade, concluiu o Ensino Médio, com êxito e sem repetência, mas com esforço, muito esforço mesmo.
Em 2015, aos 18 anos de idade, Vitória ingressa no Ensino Superior, no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia, IFBA, Campus Irecê.
Ela trouxe relatório médico que indicava que ela apresentava:
· Alterações comportamentais ansiosas;
· Déficit cognitivo, mnésico (memória) e de atenção;
· Dificuldade em abstrações;
· Discalculia;
· Dislexia;
· Incoordenação motora.
O que isso significou? Que seriam necessárias algumas adaptações e ela se desenvolveria. Nunca tivemos dúvida que ela conseguiria concluir o curso com êxito porque não pensamos deficiência como incapacidade. O nosso foco é no potencial do estudante.
Desse modo, toda a comunidade escolar, composta por docentes, técnicos administrativos, colaboradores terceirizados e estudantes foram orientados quanto à condição de Maria Vitória e como tratá-la, para que ela fosse incluída e não sofresse nenhum tipo de discriminação.
O Núcleo de Atendimento Educacional Especializado – NAPNE, do Campus Irecê, composto de uma equipe multidisciplinar (profissional da área da educação inclusiva, pedagogos, psicóloga, médico (neurologista), assistente social e técnica em assuntos educacionais (com especialização em Psicopedagogia), trabalharam para atender a estudante durante o seu percurso escolar, orientar os docentes e promover palestras e formação em educação inclusiva para servidores e estudantes.Respeitando o tempo dela, Vitória se desenvolveu e concluiu a graduação. Assim o IFBA, Campus Irecê cumpre o seu papel em promover a inclusão: garantindo acesso, permanência, aprendizagem e conclusão com êxito.” - Narrado por Iza Rocha, coordenadora do Núcleo de Apoio à Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE).
Iza reconhece o papel importante da família, junto com toda a comunidade do IFBA para esse processo formativo. “Sendo a inclusão um processo coletivo, o Campus Irecê agradece a colaboração dos familiares da estudante, dos servidores docentes, técnicos administrativos, terceirizados e dos estudantes pelo acolhimento a Maria Vitória.” pontua.
O Diretor-Geral do Campus, Jeime Andrade, parabeniza Maria Vitória por essa conquista e diz “que se orgulha de tê-la como parte da história da instituição”. Para ele “Vitória, como acostumamos chamar, nos deixa uma importante lição sobre nosso papel na inclusão de alunos(as) com Necessidades Específicas. A percepção do quão longe eles(as) conseguem chegar com o apoio devido”.
Fonte: IFBA Irecê
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