Sábado, 28 de Agosto de 2021
Chapada Diamantina

A Promotoria de Justiça Regional Ambiental do Alto Paraguaçu, com sede em Lençóis, promoveu na quinta-feira, dia 26, audiência pública na comunidade Quilombola do Riacho do Mel, no município de Iraquara, na região da Chapada Diamantina. O evento teve o objetivo de obter informações adicionais e garantir a devida participação da comunidade e de toda a população do município na implantação de projeto de abastecimento de água que envolve a captação em novo manancial hídrico da região.

Segundo o promotor de Justiça Augusto César Carvalho de Matos, a audiência faz parte do inquérito civil público instaurado para apurar possíveis irregularidades e ilegalidades que causem prejuízos ao meio ambiente com o desenvolvimento do projeto. O inquérito, explica ele, também avalia os danos ambientais decorrentes, especialmente no que se refere ao regime de disponibilidade e qualidade hídrica, bem como seus impactos nas áreas de proteção permanente e áreas de proteção da APA – Marimbus-Iraquara, a partir das perfurações subterrâneas a serem realizadas a cargo da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) e Prefeitura de Iraquara na Comunidade de Riacho do Mel. Com a realização da audiência pública, a Embasa e a Prefeitura de Iraquara, respectivamente concessionária e concedente dos serviços de abastecimento de água para a população, como também o Inema explicaram o projeto e as licenças públicas concedidas, esclareceram dúvidas da população e do Ministério Público acerca dos impactos e danos ao meio ambiente com a operação do empreendimento, de todo sistema e das etapas legais para execução do sistema de abastecimento de água e os usos dos mananciais do município.

Na oportunidade, Augusto César Carvalho de Matos destacou  que “ o papel do Ministério Público é não só fazer apuração dos ilícitos cíveis e criminais na esfera ambiental acerca do empreendimento, como também, e acima de tudo, garantir o acesso da população afetada às informações dos empreendimentos impactantes que lhe possam reduzir a saudável e sadia qualidade de vida, sendo a audiência pública um mecanismo de captação de informações e coleta de opiniões para o encaminhamento de soluções para os problemas da comunidade e garantia da efetividade para melhor atuação da Instituição”. Estiveram presentes representantes de associações civis, da Comissão Pastoral da Terra, membros do Conselho gestor da APA- Marimbus Iraquara, do Poder Legislativo de Iraquara, Prefeitura Municipal de Iraquara por seu gestor Nino Coutinho e secretariado, Simone Sodré de Alcântara representando o Inema, Gustavo Lima Magalhães Ferreira representando a Embasa. O promotor de Justiça registrou que o evento foi fortemente marcado pela participação social em ambiente aberto, que foi organizado em observação a todos as restrições impostas pela pandemia da Covid-19.

A população ressaltou o temor de que o projeto afete a qualidade de vida na comunidade bicentenária, gerando falta de água para o consumo, e venha a alterar o rio que alimenta a agricultura de subsistência, o lazer e o turismo de base comunitária. Segundo Augusto de Matos, existe histórico de conflito pelo uso de água no município de Iraquara, já tendo havido no ano de 2019 a tentativa de abertura de cinco poços artesianos no povoado para abastecer o distante município de Seabra, sendo rechaçada pela população local que realizou inúmeros protestos e colocou barreiras para impedir o andamento das perfurações. Na época não houve diálogo com a população local. Ele destacou que os conflitos por água na região da Chapada Diamantina têm-se tornado comuns, em razão do avanço das mudanças climáticas e dos choques de interesses entre as comunidades tradicionais e os projetos de desenvolvimento econômico, demonstrado existir um paradoxo entre a alegada abundante oferta hídrica na região, que é considerada a caixa d’água da Bahia, o que vem intensificando a mobilização social das Comunidades na Área de Proteção Ambiental (APA) Marimbus Iraquara, com grandes repercussões nas redes sociais, pelo que vem sendo acompanhado pela Promotoria Regional Ambiental do Alto Paraguaçu.

Fonte: MP-BA



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