O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta terça (5) à imprensa que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, cometeu crime federal ao divulgar conversas entre os dois no Jornal Nacional, da TV Globo, em 24 de abril, dia de sua saída do cargo. Advogados ouvidos pelo UOL, porém, questionam a conclusão do presidente. “Só quero rebater uma questão do senhor Sergio Moro. Em nenhum momento pedi relatório de inquérito. Isso é uma mentira deslavada. Tenho até vergonha de falar isso aqui”, afirmou, antes de acusar o ex-juiz da Lava Jato de habitualmente passar informações para a emissora. “Eu não preciso ter acesso a inquérito, é só assistir à Globo”.
A imagem difere daquela exibida no telejornal. Em 24 de abril, a reportagem trazia um registro de tela de celular com uma suposta conversa entre Moro e Bolsonaro pelo Whatsapp. Nela, após o envio do link, Bolsonaro dizia: “Mais um motivo para a troca”. Moro, então, respondia: “Este inquérito eh (sic) conduzido pelo Ministro Alexandre no STF, diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas”.
Já na versão exibida por Bolsonaro, após o link ser enviado, Moro respondia: “Isso eh (sic) fofoca. Tem um DPf (sic) atuando por requisição no inquérito da (sic) Fake News e que foi requisitado pelo Min. Alexandre”. E, em seguida: “Não tem como negar o atendimento ah (sic) requisição do STF” (Supremo Tribunal Federal). Ao final da conversa, aparece um novo link de notícia sobre o ex-juiz da Lava Jato ter alertado o ministro do STF Dias Toffoli sobre “presos de elevada periculosidade” em liberdade.
Segundo o presidente, a conversa enviada por Moro à Globo ocorreu um dia depois da que ele exibiu. “Eu realmente passei isso para ele, eu assumo. Como presidente, eu me sinto chateado em fazer isso aqui, é uma coisa particular minha. Mas, como o senhor Sergio Moro, eu vou mostrar uma parte apenas”, afirmou. Ele, então, releu a conversa exibida pelo Jornal Nacional, em que Moro respondia com a alusão ao ministro do STF. “Agora vou trazer para o dia anterior. O mesmo link foi enviado no dia anterior e, em branco, o que Moro respondeu para mim, que era fofoca”, disse, exibindo a primeira imagem publicada neste texto.
No dia seguinte, acusou, o ex-ministro “mudou de figura”. Antes de terminar, Bolsonaro voltou a condenar o comportamento do ex-juiz da Lava Jato. “O Antagonista, na sua maldade de sempre, sempre tem matérias favoráveis a Sergio Moro. Não vou acusá-lo de passar informações, mas para a Globo ele passava”.
“Eu quero ler as dez páginas [do depoimento] com atenção, e quem irá me defender deve ser a Advocacia-Geral da União. Não dá para pagar um advogado que já tenha defendido alguém da Lava Jato”, ironizou. No último dia 24, Moro acusou Bolsonaro de trocar o diretor-geral da PF Maurício Valeixo à sua revelia para substituí-lo por alguém mais próximo e ter acesso aos relatórios das investigações em curso — algumas das quais envolvem pessoas de sua família ou aliados. O presidente negou que tenha cometido crime e confirmou que cobrou relatórios de inteligência da Polícia Federal, mas afirmou que pediu a mesma coisa para outros órgãos, como as Forças Armadas.
“Eu não quero falar nada de mal sobre ele [Moro], ele fez muita coisa boa no governo e em outras coisas lamentavelmente deixou a desejar. Mas em nenhum momento ele fala que eu cometi crime”, disse. “Eu cobrei relatórios de inteligência da Abin [Agência Brasileira de Inteligência], do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e de alguns ministérios, além da PF. Cobrei isso de umas 25 pessoas. Agora para que eu vou querer relatório de inquérito? Isso não é trabalho meu”.
O presidente falou, também, sobre indicações a cargos públicos — ele disse que aceitou indicações porque “não tinha como preencher 30 mil vagas” e defendeu que, como chefe de Estado, também pode indicar quantas pessoas quiser. “Eu indiquei talvez uma meia dúzia, mas poderia ter indicado mil. Eu sou presidente para indicar ministro”, afirmou.
Fonte: UOL
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