Quarta-feira, 05 de Março de 2025
Chapada Diamantina

Foto: Reprodução

O café da Chapada Diamantina conquistou, no fim de 2024, o selo de Denominação de Origem (DO), certificação inédita para a cafeicultura baiana. O reconhecimento tem impulsionado pequenos produtores a investir em marcas próprias e impulsionado o turismo rural na região.

A produção de café sempre foi uma tradição na Chapada Diamantina, mas enfrentou desafios na década de 1970, quando preços desanimadores e doenças nas lavouras levaram muitos produtores a abandonar o cultivo. Esse cenário reduziu significativamente a produção na região por anos.

Atualmente, municípios como Piatã e Ibicoara simbolizam a retomada do café de alta qualidade, conquistando reconhecimento em premiações nacionais e internacionais desde 2019. O retorno do cultivo sustentável e valorizado tem impulsionado a economia local e fortalecido a identidade cafeeira da região.

Novas possibilidades
Para Sivaldo da Silva Luz, presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Ibicoara e Chapada (Copric), a cafeicultura na região vive um momento promissor, tornando-se mais atrativa para os produtores. O reconhecimento da Denominação de Origem trouxe novas oportunidades, agregando valor ao café da Chapada Diamantina e fortalecendo a identidade do produto no mercado.

Esse avanço ocorre em um cenário favorável, impulsionado pela valorização do grão. Nos últimos 12 meses, os preços do café mais que dobraram no mercado internacional, incentivando ainda mais os pequenos produtores a investirem na qualidade e diferenciação de suas marcas.

Para Sivaldo da Silva Luz, presidente da Copric, a cafeicultura na região vive um momento promissor  - Foto: Reprodução/ O Globo 

Para Sivaldo da Silva Luz, o grande diferencial do café da Chapada Diamantina está no terroir, influenciado pela altitude elevada, temperaturas amenas e pela presença da Mata Atlântica. Além disso, o cuidado manual na colheita garante um produto de alta qualidade, fatores que foram reconhecidos com o selo de Denominação de Origem. Esse reconhecimento não apenas fortaleceu a identidade do café regional, mas também contribuiu para a geração de renda dos produtores locais.

Luz relembra as dificuldades enfrentadas pela comunidade durante a crise da cafeicultura nos anos 1970, quando muitas famílias enfrentaram empobrecimento e escassez de alimentos. “Não tínhamos como sobreviver sem o café, e só havia banana para comer”, recorda.

Conhecido como Canjerana, em referência ao sítio onde cultiva, o café de Sivaldo da Silva Luz é comercializado torrado e moído em três categorias: tradicional, gourmet e especial. Além de fornecer para torrefadoras baianas e grandes empresas como Nestlé e Três Corações, ele aposta no crescimento da própria marca, valorizando a produção local.

Os cafés certificados, premiados ou com selo de qualidade fazem parte da categoria de “cafés diferenciados” e possuem um valor de mercado entre 15% e 50% superior ao do café tradicional no varejo. De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), os produtores que investem nesses grãos recebem, no mínimo, R$ 600 a mais por saca de 60 quilos em comparação ao café convencional. Na última sexta-feira, o indicador Cepea/Esalq apontou o preço do café arábica em R$ 2.482,22 por saca, mas, dependendo das características do café especial, o valor pago ao produtor pode ser até três vezes maior.

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Os cafés da Chapada Diamantina são comercializados em armazéns especializados, pela internet ou diretamente pelos produtores, alcançando consumidores com preços que variam conforme a qualidade e certificação do grão. A região se destaca pela produção de cafés especiais, o que tem impulsionado investimentos em novas variedades e técnicas de cultivo.

Entre os planos para o futuro, a produtora Isabela pretende introduzir o geisha, uma variedade panamenha de alto padrão, geralmente cultivada acima de 1,4 mil metros de altitude e considerada uma das mais caras do mundo. “Definitivamente, o geisha se daria bem aqui e ficaria até melhor”, afirma, destacando o potencial da Chapada para agregar ainda mais valor ao café baiano.

Atualmente, a Bahia ocupa a quarta posição na produção nacional de café arábica, ficando atrás de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Em 2024, o estado colheu 3,4 milhões de sacas, das quais 34% vieram da Chapada, somando 1,16 milhão de sacas. Para 2025, a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de um aumento para 3,6 milhões de sacas em todo o estado.

Fonte: O Globo



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