Mesmo que não estejamos vendo nenhuma apresentadora de TV com um colar de arroz pendurado no pescoço, estão com a faca no pescoço os brasileiros mais pobres que precisam ir ao supermercado para comprar o cereal. É que em alguns estabelecimentos, o pacote de cinco quilos de arroz pode chegar a R$ 40, e já tem gente parcelando a mercadoria para ser paga em oito meses, embora o pacote mal dê para terminar o primeiro mês após a compra.
Sabemos que muitos países seguraram seu estoque de suprimentos básicos para abastecer a população interna durante esses períodos críticos de pandemia, uma questão lógica de segurança alimentar interna. Por outro lado, o valor do dólar em alta estimula a exportação dos nossos produtos. Ou seja, não temos de onde importar e não há estoque para o consumo interno, uma vez que o nosso vasto território está quase que exclusivamente ocupado por plantações de soja e milho, que são destinados ao mercado internacional.
A farinha de trigo e o feijão também já estão ficando escassos nas gôndolas dos supermercados. O que deixa claro que não há um programa governamental voltado a assegurar que os itens necessários para uma cesta básica familiar estejam disponíveis para os cidadãos e cidadãs pagadores de impostos. A agricultura familiar, tão desprezada por esse governo, mais uma vez está confirmando o seu papel fundamental para garantir comida na mesa dos mais necessitados.
Para se ter uma ideia, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que já distribuiu gratuitamente mais de 3.400 toneladas de alimentos frescos para as populações vulneráveis em todo o país, segue vendendo arroz a um preço justo e livre dos venenos encontrados nos produtos vendidos por aí. Os produtos da agricultura familiar vendidos pelo movimento podem ser encontrados em pequenas lojas e distribuidores espalhados pelo país e também no site do Armazém do Campo.
O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Todo o processo agrícola desenvolvido nos assentamentos é pensado também para proteger a natureza, respeitar a dinâmica ecológica dos ambientes, estimular a plantação de árvores, o reflorestamento de locais degradados e a recuperação de nascentes. E tem preocupação social e não financeira; no mês de abril, só no Rio Grande do Sul, o MST doou 12 toneladas de arroz orgânico para completar a cesta básica de populações carentes.
O arroz barato e de qualidade comercializado pelas cooperativas ligadas ao MST mostra que incentivar a agricultura familiar é garantir que nunca faltará alimentos para o consumo interno, uma vez que tudo é produzido, em pequenas propriedades espalhadas por todo o território brasileiro, não têm como finalidade obter lucro a qualquer custo. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o Brasil registrou, entre os anos de 2017 e 2019, 43,1 milhões de pessoas vivendo na situação de segurança alimentar moderada.
Em entrevista ao site Reconta Aí, Nelson Krupinski, coordenador da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre do MST, falou sobre os motivos que têm feito o preço do arroz e deu detalhes sobre a produção do cereal através da agricultura familiar.
Fonte: Revista Fórum
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